quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Vida de heroísmo

"Nossa covardia imagina que os remédios que não incomodam, os paliativos que se adaptam á natureza, bastam para curar os nossos males. A observação imparcial, porém, contradiz estas esperanças interessadas, e, em toda a sociedade, as ações, que julgamos exigirem apenas uma dose comum de moralidade e de dedicação não são praticadas pela grande maioria dos indivíduos, senão quando eles têm diante de si impulsores e guias capazes de levarem até ao heroísmo a perfeita observância do princípio integral.
Ora os que voluntariamente guardam a castidade perpétua desempenham este papel magnífico de campeões e de chefes, e por isso mesmo são também eles, como os pais de uma numerosa prole, credores do belo título de : pais da pátria.
Quando os seus serviços e as suas virtudes chegam a seu ponto culminante, não são simplesmente pais da pátria, mas os pais da humanidade inteira, que, pelo correr dos anos, vive de seus exemplos, de suas sublimes lições.
É verdadeiramente estranho como nossos contemporâneos, que não regateiam encômios, quando se trata de celebrar os grandes sábios, os grandes artistas, liguem tão pouca importância aos serviços, muito mais relevantes, prestados por esses admiráveis batalhadores da vida moral, a que chamamos os santos.
E contudo é a energia e força desses heróis que amparam nossa fraqueza, e que destarte nos fazem participantes da abundância da vida espiritual que delles transborda. Seus exemplos nos mostram, a par do nosso dever, a extensão do nosso poder e, após esses campeões, esses conquistadores da liberdade espiritual, caminha a imensa multidão dos homens, aliás não tão libertados e completamente forros como eles, mas ainda assim, não tão servis e menos escravos do egoísmo desses maus apetites.
Acautelemo-nos de, leviamente, taxar de excentricidade e de exageração essas práticas e atitudes que não são senão uma bela reação vigorosa e necessária contra os excessos, mui nocivos, de uma sensualidade grosseira, para com a qual, contudo, somos pródigos dos tesouros da nossa indulgência.
Esses homens combateram tão duramente contra as exigências, aparentemente, mui legítimas do corpo e do espírito, porque sabiam que nós lutamos tão pouco e tão mal contra os piores excessos; e assim, graças a eles, nos é dado, a nós, beneficiados por essa vigilância, evitar os escolhos que se ocultam nas proximidades de nossas tendências normais".

(Pe. Bureau: A indisciplina dos costumes)


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