quinta-feira, 11 de junho de 2009

VIDA CONJUGAL E SACRIFÍCIO



Se há tarefa tragicamente urgente para o moralista moderno é a de lembrar aos homens a noção do sacrifício. Todos os desastres, todas as misérias do casamento, procedem do esquecimento desta necessidade. Não concebo um casamento feliz sem sacrifício mútuo. Não há nisto nenhum paradoxo. A primeira condição da felicidade é não a procurar. Nesta ordem de idéias é lícito dizer, pondo ao contrário as palavras evangélicas: Não procurei e encontrareis.Um homem nobre esforçar-se-á por viver como um homem; um homem vil procurará viver feliz. O último procurará na terra as coisas e os seres que o poderão satisfazer; o primeiro procurará os seres e as coisas a quem se possa imolar. Não «arranjamos» uma esposa, damo-nos a ela. Casar é talvez o modo mais direto e mais exclusivo de deixar de pertencer-se. Chesterton, lendo um jornal americano onde dizia: «Todo o homem que se casa se deve convencer de que renuncia a cinqüenta por cento da sua independência», fazia notar: «Só no Novo Mundo é possível um otimismo deste gênero!».O segredo da felicidade conjugal está em amar esta dependência. O ser que vive ao nosso lado, devemos amá-lo menos na medida do que nos dá que na medida do que nos custa. A vocação do casamento consagra-nos ao nosso cônjuge. Estas palavras têm um grande alcance. Dão sentido a todos os nossos deveres e a todas as dores da vida comum. Fazem sobretudo da felicidade conjugal, não há uma espécie de sacrifício estéril, mas um ato religioso do mais alto valor humano.Já não sabemos ser fiéis porque não sabemos sacrificar-nos. Tantos homens há que só amam pelo prazer imediato... Condenam-se, deste modo, a conhecer apenas a superfície do objeto amado, e, quando esta superfície os desilude, a trocá-lo por uma outra superfície, e assim por diante.Andar à volta de tudo e não chegar ao centro de nada, não será o que alguns denominam plenitude e liberdade? É de tal maneira mais fácil correr do que aprofundar! Mas aquele que quer saborear a profundidade de uma criatura deve saber sacrificar-se por essa criatura; o seu amor deve superar as decepções, superar o hábito; mais ainda, deve alimentar-se dessas decepções e desse hábito. O amor humano tem a sua aridez e as suas noites; também ele não encontra o seu centro definitivo senão para além da prova sofrida e vencida. Mas, uma vez chegado a esse ponto, ele saboreará a riqueza, a pureza eterna da criatura pela qual se imolou. Porque, se a criatura é tremendamente limitada em superfície, é infinita em profundidade. É profunda até Deus. Sempre cantaram os poetas esta captação amorosa do eterno através do ser efêmero:

Tu que passas, tu que desvaneces,

busquei-te para além dos dias e das sombras,sobre as praias invariáveis da vontade eterna...

Desci às tuas entranhas,mais além dos latidos do teu coração,

mais adentro que a fonte das tuas promessasaté ao centro solene onde a tua vida se une à Vida,até ao fremir irrevogável,até à palpitação criadora de Deus!― Eu amo a tua alma!

Chegou a falar-se do que a vida conjugal tem de banal, de monótono, de terra à terra. Bem sabemos quanto o homem é capaz de banalizar e de prostituir as coisas mais profundas. Mas, se a vida conjugal é muitas vezes vulgar, que se poderia dizer da vida sexual extra-conjugal? Creio que uma das mais sutis malícias do demônio é tentar persuadir os homens de que a ordem é a morte e a desordem a vida. Na realidade, nada mais vulgar do que o vício. O demônio não é profundo ― não é mais do que um revoltado. É um desertor que tenta fazer-se passar por evadido...As humildes realidades da vida quotidiana, o cortejo de pequenos deveres e de pequenos sofrimentos, em nada deverão alterar a pureza do amor nupcial. O verdadeiro ideal tira nova seiva destas pequenas coisas. O realismo da vida conjugal não tem por função profanar ou estiolar o ideal primitivo dos esposos, mas purgar este ideal das ilusões que com ele se misturam, e não reter dele mais do que a sua suprema essência. Na alma dos esposos que são dignos desse nome, a união do mais elevado amor e das necessidades mais terrenas, mais materiais, cria uma espécie de síntese do ideal e do real, uma espécie de realismo do ideal, se assim me posso exprimir, que em parte alguma poderá existir em tal grau. Josefina Soulary disse que Deus «se só estivesse lá em cima, não estaria em parte alguma».O casamento é, por excelência, a vocação que permite pôr Deus no que a vida tem aparentemente de mais comum e de mais banal.Ia-me esquecer de uma observação importante. O casamento deve ser um sacrifício, é certo. Mas um sacrifício recíproco. Haverá algo de mais vão, de mais prejudicial mesmo, do que uma imolação em sentido único? Dois egoísmos juntos travam-se mutuamente e, de certo modo, neutralizam-se. Que caldo de cultura não seria para as tendências egoístas de uma criatura o sentir em torno de se uma atmosfera de dedicação infatigável! Todos conhecemos lares em que o espírito de sacrifício de um dos esposos faz do outro um monstro de exigência e de egoísmo. Cada esposo deve tirar do espetáculo de generosidade do seu cônjuge, não um pretexto para fazer as suas vontades, mas um motivo para se imolar mais a si mesmo.AMOR E ORAÇÃOSacrificar-se a uma criatura, amá-la apesar do seu nada, por causa do seu nada, amá-la com um amor mais forte e mais puro que o desejo de felicidade, tudo isto só é possível se o amor humano se conjuga e se amalgama com o amor eterno.Não convém divinizar o ser amado. Esta idolatria conduz, a breve prazo, à indiferença ou à repulsa. O autêntico amor nupcial acolhe o ser amado não como um Deus, mas como um dom de Deus em que todo o divino está escondido. Não o confunde nunca com Deus e não o separa nunca de Deus.«Ela olhava para o alto e eu olhava nela», escreve Dante falando de Beatriz. Nisso reside o supremo segredo do amor humano; beber a pureza divina nos olhares, na alma, no dom de uma criatura.«Sentir como o ser sagrado freme no ser querido», assim definia magnificamente Vitor Hugo, o grande amor. Num tal grau de amor, o ser amado é verdadeiramente insubstituível: dado por Deus, ele é único como Deus; um mistério inesgotável habita nele. Os verdadeiros esposos conservam eternamente almas de noivos; a posse aprofunda para eles a virgindade. Quanto mais são um para o outro, mais fome têm de ser um para o outro. É uma maneira sagrada de possuir as coisas que, em vez de matar o desejo, como na satisfação da carne, o exalta e transfigura. Aquele que beber desta água terá ainda sede... Como poderia estiolar-se o amor dos esposos, se eles foram criados e unidos para dar Deus um ao outro? A vida dos dois desenvolve-se e torna-se infinita numa oração única.

(Gustave Thibon, O Que Deus Uniu, Editorial Aster Ltda., Lisboa 1956)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

O que nos separa radicalmente do comunismo



"Nós, cristãos, nos movemos por ideais diametralmente opostos do materialismo marxista e das orientações maoistas e castristas. (...) Aparentemente, a ma pessoa desavisada e principalmente a alguém que ignora a doutrina social da Igreja, pode ser dada a impressão de que o catolicismo e o comunismo defendem as mesmas posições, porquanto apresentam, muitas vezes, idênticas aspirações ou manifestam as angústias de populações sofridas e deprimidas. Seria útil que tais pessoas lessem atentamente os ensinamentos pontifícios (...) Os rígidos limites do materialismo dialético impedem a visão da dignidade e do valor eterno da pessoa humana e, evidentemente, o fato de alguém ser considerado apenas como peça de uma grande engrenagem acarreta consequências naturais que ferem a própria liberdade, a marca da grandeza humana. (...) Não será a violência, o ódio, a luta de calasses o nosso motor, mas sim o amor, a mais bela e a mais eficiente mola propulsora da atividade humana”. D. Agnelo Rossi, em 15-07-1979.

“Não se admite nem é licito a um grupo qualquer de sacerdotes adotar e defender um processo revolucionário. A isto se opõe seu caráter sacerdotal e a doutrina social da Igreja, que é contrária à violência e à luta armada. Devemos amar a todos. Aos que crêem e aos que não crêem. Aos poderosos e aos humildes. Aos ricos e aos pobres. Aos sábios e aos ignorantes.
Hoje, trabalha-se incansavelmente para a desunião. É um trabalho de orientação marxista que está ‘mentalizando’ a universidade, a juventude e, sou forçado a reconhecer, com muito pesar, aos homens da Igreja. O que ocorre é uma guerra psicológica que visa sobretudo a destruição moral. Prega-se que devemos chegar a um socialismo que implique necessariamente na socialização dos meios de produção, do poder econômico e político, e da cultura. Os seguidores dessa ideologia sustentam que lutam pela liberdade, quando, na verdade, com a ascenção do marxismo, desaparece a liberdade para dar lugar aos campos de concentração”.
D. Antonio Caggiano, em 13-07-1971.

A religião marxista

“Após ter aderido praticamente a uma teoria materialista da sociedade e a uma solução dialética das injustiças sociais, a lógica interna do pensamento, intrinsecamente perverso, do comunismo, o conduz a julgar-se doutor da Igreja, doutor de Deus. Seu impulso religioso mudou de objetivo. Fundou-se na matéria pensante para se tornar uma parte desse deus em evolução, que é a Humanidade, assumindo não somente seu dever material, mas seu dever moral. Daí por diante, não há mais nada a não ser a Humanidade. É para ela que ele remeteu este atributo de Deus: a justiça!”.

Marcel Clément, Le Communisme face à Dieu: Marx, Mao, Marcuse, Nouvelles Éditions Latines, Paris, 1968.

domingo, 19 de abril de 2009

O DEVER CRISTÃO DA LUTA

Hoje mais que nunca, é imperioso atermos nossa atenção as palavras de ANTÔNIO CAPONNETTO, católico tradicional e nacionalista argentino, que constam em seu livro "El Deber Cristiano de la Lucha", que abaixo transcrevemos. Hoje, quando o público jungiu-se com o privado; quando o bem público confunde-se com o bem comum, magnificamente como ensinou o aquinate; quando a moral pública prescinde de quaisquer elementos que não seja a moral emergida das leis positivas, em total rechaço ao direito natural e cristão, então nos parece que o caos se torna inevitável. Assim, o Cristão, o Católico, deve assumir seus deveres para com Deus, combatendo em nome das sãs tradições da pátria, nascida sob o sinal da Cruz, e que agora sangra e clama a seus filhos que ainda lhe são fiéis, clama a Reconquista.

"Mas o combate que livra o justo não é só individual. Não tem inimigos exclusivamente privados, nem males que lhes atinem subjetivamente. E ainda que sua tribulação e pesar, sua expiação e sua dor lhe sejam intransferíveis, há em seu padecer uma questão transpessoal: o drama da pátria invadida e subjugada que implora uma reconquista física e espiritual. A dor ante a nação desnaturalizada e sacudida pelo pecado e submetida a vitória temporária dos infiéis. Os justos não podem nem devem consenti-lo, e a luta assoma novamente como um dever e uma obrigação capital. Deus vai a frente e é verdadeira força, "não é a multidão dos exércitos" o fator decisivo, tampouco a destreza do guerreiro ou "o vigor do cavaleiro" (Sal. 33, 16-17). Só Deus. É impróprio, pois, manejar cálculos exclusivamente humanos e materiais: número de contricantes, estratégias e táticas ou ofensivas diversas. O Senhor dos Exércitos se empenha em demonstrar que a vitória ou a derrota está em suas mãos e guarda estreita relação com a lealdade a Ele devida.O Salmista o reconhece expressamente: "não confio em meu arco, nem minha espada me dará vitória" (Sal. 44,5). "Sua destra, seu braço, a luz de seu rosto... por ti bateremos a nossos inimigos" (Sal. 44, 4-6). E novamente Seu Nome santo - repetido e exaltado a cada instante - é como um lábaro de glória que acompanha ao soldado. Na deslealdade e na idolatria sobrevem a desonra nacional. A ignominia e o ultraje prevalecem, a pátria jaz e os patriotas pedem ao céu a graça de recuperar sua liberdade e sua honra. A graça da paz edificada na justiça (Sal. 46). Deus, que não lhes ha conservado provas nem sanções, tampouco os privará de sua condução reconquistadora (Sal. 60). Como ginete bravo vem "cavalgando pelo deserto" (Sal. 68, 5), já seu passo viril, os inimigos "se desvanecem como humo e se derretem como a cera ao fogo" (Sal. 68, 3). Volta o Senhor dos Exércitos, regressa uma vez mais a guiar os justos, a consolar aos órfãos e as viuvas, a defender aos cativos e alçar-se onipotente no santo tabernáculo (Sal. 68, 6-7). Reaparece "terrível" em sua cólera e em suas sentencias, indômito em suas ordens e em seus juízos, resoluto em seu furor reparador, resplandecente e majestoso "mais que os montes eternos" (Sal. 76, 5). A herança profanada restabelece seu decoro, os traidores são rendidos e os cúmplices desprezados, e sobre as ruínas todavia ardentes fazem valer seus direitos. Deus vincit.E um segundo: "Esta Igreja Primitiva não ignorava o quinto mandamento, nem os conselhos do Senhor sobre o amor aos inimigos, nem as recomendações pessoais para entregar também a veste ao que nos despoja do abrigo. Mas sabia que a morte é pecado se executa contra um inocente e não contra um perverso em custódia do bem. Que uma coisa são os inimigos privados, ante os quais cabe oferecer nosso abatimento e nossa humilhação e outra os inimigos públicos de Deus e da Ordem por Ele criada, a quem estamos obrigados a enfrentar até as últimas conseqüências, não por ódio a eles, senão por amor a Verdade. Que és distinto preferir o padecimento de uma injustiça antes que comete-la - tal o sentido da metáfora do despojo do abrigo - que consentir um roubo ou não impedi-lo, podendo, pois, seria faltar ao sétimo mandamento. E que Cristo mesmo, ao fim, que elegeu ser vitima antes que fazer vitimas, não colocou sua outra face frente ao servidor de Caifás, nem descartou a possibilidade de mobilizar uma legião de arcanjos armados se aquela não houvesse sido a hora da iniquidade".

Os livros disponíveis de António Caponnetto podem ser adquiridos no sítio da livraria "Nueva Hispanidad".