terça-feira, 26 de abril de 2011

Fundamento vital da liberdade

Paradoxo curioso: quanto mais enfadonhos e vazios são os "prazeres" que obtemos do pecado (e penso aqui de modo especial na luxúria), menos sabemos resistir às nossas paixões; quanto mais no desilude o nosso ídolo, mais fatal é a nossa escravidão. Mas isso só aparentemente é para admirar. O homem de prazeres mortos é demasiado pobre para ser livre. A sua vontade já não encontra, nos recursos amortecidos da sua vitalidade, o ponto de apoio, o tensor material indispensáveis para o seu exercício. A mesma ausência de tonalidade afetiva que faz incolores os seus prazeres, torna irresistíveis os seus impulsos. Aquele que julga pecar "fatalmente" (excetuo certos casos, hoje raríssimos de êxtase sexual), peca por ninharias. Um pecado verdadeiramente saboroso só pode ser um pecado profundamente escolhido. Este esfacelamento progressivo da voluptuosidade e da liberdade é, porém, a consequência normal da mecanização da humanidade. Também uma máquina é tão incapaz de escolher os seus movimentos como de neles experimentar prazer...

THIBON, Gustave. O pão de cada dia, Editorial Aster, Colecção Éfeso.


Desarmamento de quem, senhora Rousseff?

Prof.ª Aileda de Mattos Oliveira (*)

Um governante, qualquer que seja ele, sem programa de governo, vive de ocasionais acidentes e incidentes ocorrentes, momentos em que retira da cartola um coelho esquálido, cansado de ser o protagonista da mesma representação.
Como representação é farsa, para disfarçá-la, reveste-a de bombástica exuberância e seriedade, para impingir uma mentira sobre a qual passou um verniz de má qualidade. Como lhe faltam argumentos convincentes, recorre aos atores coadjuvantes, que dispõe no Congresso, fâmulos genuflexos sempre dispostos a babar-lhe as mãos com a saliva da bajulação.
Um aloprado resolve acabar com os sonhos de um grupo de crianças, e toda a sociedade é responsabilizada pelo ato insano. Já imaginou se o governo militar tivesse proibido o uso de armas, porque um bando de esquerdistas queria arrasar com o país, destruindo aeroportos, quartéis e pessoas que passavam por aqueles locais inadvertidamente?
Estoura mais uma bomba, desta vez na imprensa, de que já foi determinada a realização de um novo referendo para ouvir a voz da sociedade sobre mais uma ação governamental contra ela, a de retirar as armas de pessoas honestas e pacíficas. Claro, que a sociedade vai dizer um sonoro “Não!” à audácia de deixar-lhe inerme, sem a segurança de seu patrimônio e de sua família.
Porém, supondo que o governo vença essa desigual luta de braços, diga-nos, senhora Rousseff, as armas do MST também serão recolhidas? Neste ‘grupo social’, no qual as crianças também as usam, da mesma forma serão protegidas pela lei da criança e do adolescente, ainda que o adolescente, já tenha cometido todos os delitos contra a propriedade privada? Se esses ‘lutadores em prol da reforma agrária’ não obedecerem às ordens emanadas pela justiça, ficarão presos por seis anos, pena determinada, segundo a imprensa, para os pacíficos habitantes da cidade?
Espero que não mande o coelho esquálido, cansado, para mais esta missão. Venha a público, olhe nos olhos da sociedade e responda às perguntas que lhe foram feitas.

(*) Prof.ª universitária e membro da Academia Brasileira de Defesa. A opinião expressa é particular da autora