Em face de tais circunstâncias, não resta outra alternativa aos católicos que não tremem nem coram de se apresentar como tais, senão o dever inelutável que se nos apresenta na hora presente: resistir e combater.
No entanto, urge salientar que não é a luta contra um indivíduo a que estamos propondo, nem sequer contra um partido ou facção determinada. Não é uma luta privada por bens ou postos, ou por obter algum espaço no mecanismo de reajuste do sistema.
Aprendemos com os clássicos que a democracia é a profanação da política; com o magistério autêntico da Igreja, que não se pode convalidar a aberração da soberania do povo nem o mito absurdo do sufrágio universal; e ainda, aprendemos por experiência histórica que era certo aquilo que ensinava Maurras: não é a democracia que está doente, a doença é a democracia.
A doença é o regime, e todo empenho por reconquistar a saúde da Pátria, deve começar por impugná-lo sem concessões, e combatê-lo coerentemente até as últimas conseqüências.
Mas esta luta contra a tirania democrática, contra este mando ilícito por sua ordem e por seu exercício, contra este despotismo subversivo que tudo corrói, compromete ademais – e prioritariamente – nossa fidelidade de batizados. Com efeito, é doutrina segura da Fé Católica, transmitida até hoje sem míngua nem desgaste, que os fiéis de uma nação cristã possuem o direito a desobedecer aos governantes ilegítimos; a desacatar suas propostas primeiro; a rebelar-se depois gradualmente em forma passiva e ativa, até chegar a resistência franca, física, obstinada e heróica, quando a tirania não deixa outra possibilidade mais que sua morte para que possa restituir-se a vida da nação.
Mas não se trata somente de um direito que pode ser exercido ou não segundo os casos. Sobre determinadas circunstâncias – precisamente quando as forças subversivas e sediciosas ocupam o poder e destroem o bem comum completo - a resistência ativa integral é um dever coletivo dos cristãos, que ninguém pode recusar enquanto dure o estado de agressão permanente; é uma obrigação moral da qual ninguém pode se abster, é um imperativo que reclama concreção e resposta, é uma reconquista que não perdoa escusas nem protelações.
O ensinaram os Padres e a melhor escolástica, os teólogos de nota e os sábios moralistas de todos os séculos. Existe a exigência de levantar batalha em defesa da Realeza Social de Jesus Cristo, quando ela é agredida, esbofeteada, escarnecida e traída com anuência do tirano e de seus sicários. Exigência que chega, como o entendeu esse povo hierarquizado de 1964 aos civis capazes – varões e mulheres -, aos sacerdotes insubmissos em seu ministério, àqueles que sintam náuseas de permanecer neutros em momento de tão decisivo transe, e aos guerreiros genuínos, para quem a Pátria é um Graal reluzente pela qual cabe andar de vigília em vigília até o derramamento de sangue. Por isso, o Cardeal Bellarmino falava da Santa Intolerância, e Urbano VIII absolveu do juramento de fidelidade aos soldados que o havia prestado ao Conde Hugo, ratificando assim o princípio de que a fidelidade das tropas de um país cristão se deve primeiro a Deus que aos homens, e que não têm por que prestar-se aos governantes quando eles se comportam como sacrílegos, apóstatas e ímpios consumados.
Não nos será possível esta contenda se não forjarmos em nós e em nossos camaradas e amigos, o modelo de militante que nos impõem estes tempos.
A defesa da Pátria e dos valores cristãos - católicos - inerentes a ela, não poderá ser uma ocasião para os frívolos, nem um refúgio para os cômodos, nem um ponto de reunião para os derrotados. Tampouco será campo para fugazes ativistas nem para esses falsos pregadores que crêem querer a Deus porque a ninguém os quer e menosprezam tudo cheios de soberba e de auto-suficiência estéril. Venham cerrar filas conosco os que depuseram a intriga e o interesse pessoal, o sarcasmo vazio, o personalismo soberbo e as aventuras sem direção. Venham a nossos quadros – pobres em cifras e meios, mas plenos em verdades – os que mantêm a firmeza das convicções absolutas e a coragem de sustentá-las oportuna e inoportunamente.
O militante que necessitamos não é o espectador de um espetáculo, é o antagonista de uma luta justa. Não é o covarde que, em seu gabinete ou no conforto de sua casa, acusa o erro mas nem cogita a possibilidade de lutar para expurgá-lo. Não é o que se submete à comédia da participação democrática, senão a testemunha de um drama que espera reverter com seu esforço em uma jornada de júbilo. Não é o agitador de bandeiras estridentes, senão o portador silencioso do lábaro da glória.
Não é o candidato que se prostra suplicante ante os homens, senão o homem que entende que a hierarquia se funda no trabalho, no serviço. E não será talvez, o que recorra aos degraus do êxito nas campanhas publicitárias, mas sim aquele que se abraçou à cruz, seduzido por seu esplendor e por sua graça.
O militante que necessitamos não é o que pergunta qual é o programa, assim como ocorre nos partidos políticos. Bem dizia Codreanu que o país agoniza por falta de homens integrais (completos) e não por ausência de programas. O nosso, não obstante, foi exposto por mestres mártires e personalidades eminentes do pensamento católico.
Mas seu melhor legado segue sendo as recordações vivas de seus grandes feitos.
Não nos faltam propostas, como se diz por aí com ignorância ou malicia. Não nos faltam soluções concretas para os problemas reais. Mas pedimos primeiro para nós: disciplina e trabalho, ajuda mútua e honra, confiança e sacrifício, formação e ação, oração e adoração permanente sobre todas as coisas.
O resto – como o prometido acréscimo – sobrevirá quando menos esperarmos.
O militante que necessitamos é o que sabe que quando não existe bem não existe escolha, e que entre o mal e o mal menor – que é sempre um mal – está o bem possível. O bem pendente e realizável: a Reconquista e a Restauração da soberania plena em nome de Deus e da Pátria.
Trata-se de vencer as condutas resignadas, e essa dor ingrata que é o fatalismo e a desolação. Marchar sem esperança não podemos, porque ela é nossa força. E se estiver certo Péguy que outrora lembrou que “Deus disse: a fé que eu mais quero é a esperança”, ela nos levará à fé e à caridade, que é a única trilogia que não foi capitulada...
O militante que necessitamos deve amar a Pátria como pessoa viva. Com amor de filho, como prova de gratidão pelo recebido; com amor de esposo, sustentado na fidelidade indissolúvel; e com amor de pai, que é amor de serviço e de sacrifício, de porvenir e gozo.
O militante que necessitamos há de nos encontrar. Que some sua dádiva ao nosso coro, que aproxime mãos e braços, palma ao céu, sem dar nem pedir trégua. Que traga sua insistência em não render-se. Que venha sem regresso e com o coração crispado de promessas. Que suba a bandeira até o cimo, que se aliste nas guardas sem relevo, que com o Rosário no peito e Cristo como chefe pronuncie sem temor o nome do Brasil, porque assim – o juramos – Brasil é quem vence!
Nenhum comentário:
Postar um comentário