segunda-feira, 18 de outubro de 2010

IDEOLOGIA DE GÊNERO E A ANTIMETAFÍSICA DO SER

Fernando Rodrigues Batista


Consoante preleciona o Pe. Lodi, a Cultura de Morte pretende dar seu último golpe: a mudança antropológica, quer dizer, a mudança do ser mais profundo do homem desde a manipulação e aniquilação psicológica-existêncial deste.
A ideologia de gênero (1), que causou enorme discussão na IV Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Mulher (Pequim, 1995), tem sua origem em FREDERICK ENGELS, amigo inseparável de KARL MARX. Em seu livro “A origem da família, da propriedade e do Estado” (1884), Engels dizia:
“O primeiro antagonismo de classes da história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher, unidos em matrimônio monógamo, e a primeira opressão de uma classe por outra, com a do sexo feminino pelo masculino”. (2)
No mesmo diapasão, o feminismo atual, com bases no marxismo, não deseja simplesmente melhorias para as mulheres. Deseja eliminar as “classes sexuais”. Diz a feminista radical SHULAMITH FIRESTONE, em seu livro “The Dialectic of Sex” (A dialética do sexo):

“... assegurar a eliminação das classes sexuais requer que a classe subjugada (as mulheres) faça uma revolução e se apodere do controle da reprodução, que se restaure à mulher a propriedade sobre seus próprios corpos, como também o controle feminino da fertilidade humana, incluindo tanto as novas tecnologias como todas as instituições sociais de nascimento e cuidado de crianças. E assim como a meta final da revolução socialista era não só acabar com o privilégio da classe econômica, mas com a própria distinção entre classes econômicas, a meta definitiva da revolução feminista deve ser igualmente — à diferença do primeiro movimento feminista — não simplesmente acabar com o privilégio masculino, mas com a própria distinção de sexos: as diferenças genitais entre os seres humanos já não importariam culturalmente”.

Ainda, segundo o Pe. Lodi, as feministas de gênero, fiéis à visão marxista, dizem que toda desigualdade é injusta. Que o trabalho exercido pelo homem seja diferente do exercido pela mulher é simplesmente uma injustiça institucionalizada. É preciso acabar com ela.
Como assinala JESUS TRILLO-FIGUEROA, “o gênero é a consideração de que o sexo não é algo inato, senão adquirido, quer dizer, ninguém nasce homem ou mulher por natureza, senão que o adquire em função do desenvolvimento de sua personalidade ao longo de sua vida na sociedade: masculino, feminino, bissexual, transexual, etc.”.
Conforme salienta a professora PATRICIA MARTÍNEZ PERONI, docente de antropologia na Universidade CEU São Paulo, de Madri, Espanha:
Encontramo-nos frente uma dura e pura ideologia que em sua aparente coerência argumenta com base nas aparências, nas meias verdades e nas emoções sem sujeições razoáveis a um pensamento fundamentado na realidade do ser humano e na ordem natural.
A dialética “natureza-cultura” foi convertida pelo reducionismo monista em uma hipertrofia da ideologia, com base no racionalismo ideológico e no estruturalismo filosófico-político. O substrato metafísico que suporta a realidade (o ser, o conhecimento e o agir humano) em ditas ideologias é a ‘antimetafísica do ser’.
Proclamando a absolutização da liberdade, ou melhor, a ‘libertinagem’, paradoxalmente cairiam no determinismo irreversível, ao sustentar que a orientação sexual não é escolhida, não é modificável e não se contagia nem influi aos demais. É uma espécie de ‘construtivismo inatista’ e unidirecional, sem volta atrás, daí que não admitam as terapias reparativas da homossexualidade, pois, a desconstrução é somente para a ordem natural, não para a subversão cultural.
Assistimos, portanto, a desintegração da unidade e identidade da pessoa em sua essência primeira, corpo e alma espiritual, e em sua natureza dinâmica e operativa em nível de diferenciação sexual como pessoas sexuadas desde o início da existência, como homem e mulher. Perdida assim sua unidade e identidade pessoal se romperia a unidade e identidade sexual.
Daí que seja a ‘escola do gênero’ (a aparência dos comportamentos psicosexuais atomizados da natureza neurobiológica) o referencial ético da nova ‘promiscuidade e perversidade sexual’ a que registraria e promoveria as condutas hoje, justificadas na ‘diversidade e a auto-construção da orientação do desejo’ como paradigma jurídico e social nos novos direitos à igualdade e a não discriminação”.
Hodiernamente não é possível um Totalitarismo Universal à nível econômico, político, social, cultural, sem uma Dominação e uma Aniquilação do ser profundo da Pessoa.
O instrumento privilegiado desta mudança, desta dominação do ser mais profundo da pessoa humana, desta aniquilação antropológica é a Ideologia de Gênero, que desconstrói (destrói) os fundamentos mais profundos e radicais do ser do homem: a Natureza, sua própria identidade como homem ou mulher, a sociedade, a família, a religião e o próprio Deus.
O homem, sem estes fundamentos, fica isolado, indefeso e infundado ante este novo Totalitarismo, passando assim a ser fiel e obediente submisso aos postulados deste. A destruição do ser humano entra em uma etapa nunca conhecida na história.
A gravidade desta situação, frente a outras agressões ao ser humano ao longo da História, é que não só este novo Totalitarismo aniquila o ser mais profundo do homem, senão que o realiza fazendo o homem crer que toda manipulação, aniquilação e dominação não é senão um processo de conquista da verdadeira e radical liberdade.
Assim, o homem manipulado se converterá em um dos mais fiéis defensores de todo este processo e em um dos mais agressivos perseguidores de toda “verdadeira” libertação.
O drama atual poderia resumir-se sinteticamente em que negado o ser, é crítico o conhecer, e, por conseguinte, caótico o agir humano. Portanto, como saber qual é a verdade do homem? Que sentido tem a família se não se conhece o que é a pessoa? Se se desconhece a estrutura da subjetividade humana, como buscar estabilidade no conhecimento e nos afetos em relação ao próximo? Se não existe o Outro, com maiúsculas, qual a razão de amar aos outros, ou amar a si mesmo?
Em 1994, ano da família, o Papa João Paulo II, de saudosa memória, manifestou sua angústia em relação ao tema:
Numa tal perspectiva antropológica, a família humana está a viver a experiência de um novo maniqueísmo, no qual o corpo e o espírito são radicalmente contrapostos entre si: nem o corpo vive do espírito, nem o espírito vivifica o corpo. Assim o homem deixa de viver como pessoa e sujeito. Apesar das intenções e declarações em contrário, torna-se exclusivamente um objeto. Assim, por exemplo, esta civilização neo- -maniqueísta leva a olhar a sexualidade humana mais como um campo de manipulação e desfrutamento, do que a olhá-la como a realidade geradora daquele assombro primordial que, na manhã da criação, impele Adão a exclamar à vista de Eva: «É carne da minha carne e osso dos meus ossos» (cf. Gn 2, 23). É o mesmo assombro que ecoa nas palavras do Cântico dos Cânticos: «Arrebataste o meu coração, minha irmã, minha esposa! Arrebataste o meu coração com um só dos teus olhares» (Ct 4, 9). Como estão distantes certas concepções modernas da profunda compreensão da masculinidade e da feminilidade oferecida pela Revelação divina! Esta leva-nos a descobrir na sexualidade humana uma riqueza da pessoa, que encontra a sua verdadeira valorização na família e exprime a sua vocação profunda mesmo na virgindade e no celibato pelo Reino de Deus. (3)
É urgente estudar e analisar em profundidade esta situação para poder dar a ela uma resposta séria, sistemática e planificada.
Assistimos a Revolução Cultural mais profunda e dramática de toda História da Humanidade e, se forem concretizados seus intentos, talvez seja a última pelas dramáticas e radicais conseqüências no ser humano.
Unamo-nos as forças e ponhamo-nos em marcha. As futuras gerações julgarão nossa atuação presente, pois desta dependerá aquela.

(1) Frases de feministas:
- "Nada fez mais por constringir a mulher do que os credos e os ensinos religiosos". (Judith Lasch)
- "Os textos bíblicos não são revelação de inspiração verbal nem princípios doutrinais, senão formulações históricas... Analogamente, a teoria feminista faz questão de que todos os textos são produtos de uma cultura e história patriarcal androcéntrica". (Elisabeth Schussler Fiorenza - "teóloga" feminista de gênero)
- "O cristianismo é uma teologia abusiva que glorifica o sofrimento. Cabe assombrar-se de que tenha muito abuso na sociedade moderna, quando a imagem teológica dominante da cultura é o 'abuso divino do filho' - Deus Pai que exige e efetua o sofrimento e a morte de seu próprio filho? Se o cristianismo tem de ser libertador do oprimido, deve primeiro liberar-se desta teologia" ("teólogas" Joanne Carlson Brown e Carole R. Bohn - expressões do livro: A crítica feminina, p. 26)
(2) ENGELS, Frederick. The Origin of the Family, Property and the State, New York: International Publishers, 1972, pp. 65-66.
(3) Carta do Papa João Paulo II às famílias. 1994 – Ano da Família, 33. Disponível em: < http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/letters/documents/hf_jp-ii_let_02021994_families_po.html>. Acesso em: 01.03.2010.

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