quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Satã na Cidade (Sobre a obra destruidora de Satanás no mundo...)


O presente texto é um comentário feito pelo saudoso filósofo Heraldo Barbuysobre a magnífica obra de Marcel de La Bigne Villeneuve, "Satan dans la Cité", que não obstante ter sido escrita em 1951, as teses levantadas pelo autor francês constitui perfeito prognostico tanto da vida política hodierna.



As teses defendidas por Marcel de la Bigne Villeneuve em seu livro sobre a Estatologia e em seu Tratado Geral do Estado são aqui retomadas sob um aspecto inteiramente novo, qual seja o das relações entre a situação do mundo contemporâneo e o diabolismo político social. Livro mais popular do que os anteriores do mesmo autor e onde sua filosofia política vem exposta de maneira mais atraente sob forma de diálogo entre um teólogo e um sociólogo. A obra destruidora de Satanás no mundo é o tema central do livro. E Satanás não é uma alegoria, nem uma figura literária, mas um ser concreto cuja atuação neste mundo, de que é o Príncipe, se evidência em todos os tempos sob a forma da possessão, que se distingue rigorosamente da doença nervosa. A rarefação dos casos de possessão, longe de indicar que o progresso das ciências expulsou Satanás do mundo, mostra ao contrário um aperfeiçoamento dos métodos satânicos: a inabitação física é cada vez menos útil ao inimigo do gênero humano, que infecta antes as instituições políticas e governamentais, num movimento simulado, mais irresistível, em que centenas de milhares e de milhões são levados à perdição. Satanás utiliza para seus fins o gregarismo moderno usando um método à altura do famoso progresso das ciências, pelo qual se pretendia decretar a sua desaparição. O reino das massas é o reino de Satanás, no que representa de miséria, de injustiça, de descrença, de fanatismo, de guerra, de desordem. Satã, em hebreu SHATAN, que significa o adversário, o que é contra, diabo, de d’aballô o que se põe de través, implantou no mundo, depois da Revolução Francesa, que é obra sua, o signo da destruição e da morte, da perdição e do erro. As tremendas maquinações atribuídas a misteriosas entidades terrenas, devem ser referidas ao Príncipe das Trevas e aquelas entidades, quando reais, são os seus instrumentos. A "Soberania do povo" no estilo da Revolução Francesa em que o povo é governado, o povo governa, do povo vem a autoridade, mas a autoridade recai sobre o povo; o reino do laicismo, a contra-igreja, que expulsa do mundo Deus, cujas leis são postergadas em nome de um direito formal, que é uma suma de mentiras e utopias, tal o reino de Satanás. A negação do Pecado Original, pela revolução que iniciou a infecção da sociedade moderna. A luta contra as instituições religiosas, a ditadura satânica do número, o liberalismo, o aniquilamento de toda moral transcendente. Tal o reino de Satanás; tal a sociedade atual. Satanás, o Príncipe da Mentira, afeiçoou à sua semelhança um mundo feito só de mentira. Nada mais impressionante do que a descrição do reino da mentira, feita pelo teólogo:

"A duplicidade é universal; ela nos cega, nos sufoca, nos desgarra, nos apodrece e dissolve todos os nossos pontos de apoio. Nossa época e nosso espírito, estão de tal modo gangrenados de mentira que contaminam até as instituições e os homens que desejariam ficar indenes e os leva a recorrer, na falta de coisa melhor, à mentira para lutar contra a mentira. Mentira na filosofia política que pretende sub-repticiamente substituir o espírito pela matéria, a qualidade pela quantidade, o Criador pela criatura, a razão por uma cega aritmética. Mentira da linguagem política e especialmente do calão parlamentar, tornado anfibológico e quase hermético e do qual nenhuma só palavra, notava Péguy, conservou sua significação natural. Mentira nas instituições políticas construídas en porte à faux sobre fundamentos instáveis e ruinosos. Mentira em particular na Soberania do Povo, que desfigura a autoridade, de que faz uma escrava e o comando de que faz um despojo. Mentira na justiça que se torna a serva dócil da iniquidade triunfante, sem se preocupar nem mesmo com a evidência, prostituindo-se aos poderosos do dia e pretendendo impassivelmente converter a culpabilidade em inocência, a inocência em culpabilidade. Mentira na polícia que perverte a moralidade pública, que tem a missão de defender. Mentira na repressão e na vingança que se escondem sob a máscara da legalidade e na sombra dos cárceres. Mentira na interpretação do Bem Comum e do Interesse Geral, que já não são invocados senão para servir interesses de partidos, ou que se reduz a uma concepção sórdida, baixamente utilitária, que se confunde voluntariamente com o bem estar, as comodidades materiais e as satisfações dadas aos instintos gozadores das multidões. Mentira da lei, que já não é a ordem racional, imposta pelo bem de todos, mas a simples expressão, disfarçada em direito formal, da vontade do mais forte e entregue assim a uma perpétua instabilidade, a uma permanente injustiça. Mentira na liberdade, onde já não se quer ver o que ela é, isto é, uma lenta e penosa conquista e a faculdade sublime de ser causa, mas um dom gratuito e congenital e que se transforma em tributária do mal, em dissolvente da autoridade, em negação da responsabilidade. Mentira na Igualdade, em nome da qual se tende estupidamente dar a todos os homens, direitos, estatutos e satisfações uniformes. Mentira na Fraternidade, que se orgulha de tornar inútil a Caridade e nada mais faz do que renovar incessantemente o drama de Caim e Abel. Mentira na Moral, privada de sua base e de seu fim e tornada puramente fictícia. Mentira no hino universal entoado à apoteose da Pessoa Humana, cuja dignidade nunca foi tão desconhecida. Mentira na educação, que não passa d’um entulho, sem nenhuma ação formadora e deixa portanto de merecer o nome que se lhe atribui. Mentira no crédito que o Estado confunde abertamente com a espoliação e o roubo. Mentira na moeda, cujo valor real está num desequilíbrio cada vez mais completo com o valor aparente e tende irresistivelmente para o zero. Mentira, direi eu, até nas orações que certos políticos, que se pretendem religiosos, dirigem publicamente aos Céus pela salvação de um Estado que é a negação e a violação dos direitos divinos, pois, segundo a grande palavra de Bossuet, Deus se ri das suplicas que se elevam até Ele para desviar as desgraças publicas, quando não nos opomos ao que se faz para atraí-las.
Mentira, para coroar o todo, no comportamento dos melhores que julgam, sob o pretexto de evitar um mal maior, dever pactuar com o falso, arvorar opiniões que não são as suas e dizer-se o que não são. Mentira, sim! Até na verdade, à qual se incorpora sistematicamente uma parte de erro, mentira no erro o qual se incorpora sistematicamente um parte de verdade, alienando assim o espírito dos homens, de tal modo que aos olhos de grande número elas se tornam praticamente indiscerníveis, intercambiáveis. Perversão e confusão, tornadas tais que, mais cínico do que Pôncio Pilatos, um parlamentar francês, sem suscitar reprovação alguma, pode proclamar: ‘Mais vale unir-se ao erro do que dividir-se na verdade’."

Tal reino satânico, onde o Príncipe do Mal substitui o dogma da Imaculada Conceição pelo mito da 'imaculada conceição' do homem, com o seu progresso indefinido, com a sua inocência original, com a sua soberania coletiva, com as instituições em suma da contra-Igreja. A contra-Igreja, tem também, com a Igreja, o seu Credo, mas um credo de mitos, de erros e de mentiras. A Igreja de Cristo abre o caminho do reino celeste; a contra-Igreja pretende abri-lo para um suposto paraíso terrestre. Como a Igreja de Cristo é a Igreja de Deus, a contra-Igreja é a Igreja do Diabo, que tem o seu grande fetiche nas abstrações do 'Povo' deificado, hipostasiado pelas teorias revolucionárias, convertido num ídolo, no objeto duma demolatria... O credo da contra-Igreja é a famosa declaração dos 'direitos', onde os direitos verdadeiros e vivos são eliminados, pelos utópicos e abstratos. A contra-Igreja tem também a sua teologia, com 'doutores' e 'pontífices', com seus 'missionários', com sua magia que pretende operar a 'transubstanciação das ignorâncias', numa 'vontade geral', 'reta, inalterável e pura'. A contra-Igreja tem até os seus sacristãos e seus bedéis, seus objetos sagrados, figurados pelas urnas eleitorais e pelo fetiche do 'grande número'. O grande número é o número da besta do Apocalypse, o número 666: segundo Alberto o Grande e o Venerável Beda este é número da criação puramente material, o número da quantidade pura. A ditadura da quantidade, com suas sete cabeças e seus dez cornos que trazem o nome da blasfêmia.
Satan dans la Cité constitui uma das mais terríveis críticas endereçadas à sociedade contemporânea e em particular à francesa. Fazendo constantes referências a obras demonológicas, tais como a de Simone Weil Connaissance surnturelle e o volume de Études carmélitaines sobre a ação satânica; apoiando-se em Encíclicas e na sua habitual erudição, Marcel de la Bigne Villeneuve consegue demonstrar que existe uma inteligência diabólica, nas maquinações, pacientemente urdidas, que têm conduzido o mundo ocidental à descristianização, o erro, à fraude, à heresia e que podem conduzi-lo a morte. As nações não são imortais como os indivíduos que podem purgar nesta ou na outra vida seus erros e seus crimes. As nações resgatam neste mundo mesmo os seus atentados; e a força do demônio sobre os homens e nações é tanto maior, quanto maior é a extensão dos seus pecados. Villeneuve mostra a obra do mal progredindo pela alão de dois tipos de filhos de Satanás: os "filhos legítimos" de Satanás que reivindicam abertamente sua origem e adotam sem reticências o programa da Contra Igreja. E os "filhos bastardos" de Satanás que pretendendo permanecer no seio da Igreja procuram conciliar Deus e o Diabo, a revolta e a Verdade e que parecem ficar na Igreja para melhor facilitar a entrada de Satanás. Os filhos bastardos de Satanás são os católicos transigentes, que desejariam unir os contrários, estabelecendo um sistema de vergonhosas concessões, em que, cada uma das partes cedem um pouco, em benefício duma suposta harmonia entre a virtude e o crime.
Uma observação importante poderia ser feita sobre este livro: Villeneuve nos mostra aqui todo o satanismo da política liberal, que erige em face da Igreja uma Contra-Igreja.
Mas o liberalismo político-econômico já não vigora e sim a sua consequência direta, que uma invasão cada vez mais insuportável do Estado em todas as esferas de atividade individual. O liberalismo, como obra de Satanás foi simples meio para chegar a um fim bem mais infernal, que é a centralização de todas as instituições, e de todos os poderes em Estado hipertrofiados e finalmente num Super-Estado Internacional, cuja infectação por Satã é a perdição de milhões de almas pela obra de um único poder maléfico. A ignorância mais infernal da nossa época é a ignorância dos princípios do direito natural e a sua substituição por esse direito positivo, em cujo corpo de leis cada vez mais numerosas transgridem a ordem divina do mundo. Já não é mais tempo de clamar contra a excessiva liberdade do indivíduo em face do Estado. Agora é tempo de clamar contra a excessiva liberdade do Estado em face do indivíduo; de tal sorte que a maior luta de nossa época é a luta pela preservação dos direitos da pessoa humana. Mas este não é um reparo e sim uma explicação feita à poderosa obra de Marcel de la Bigne Villeneuve, cuja leitura é extremamente recomendáveis a todos os políticos e com tanto mais razão a todos os católicos. Todas as formas de socialismo são formas de satanismo. E a doutrina da Igreja, tão bem defendida no Tratado Geral do Estado de Villeneuve, não é um meio termo entre capitalismo e comunismo e suma uma doutrina própria, original e autêntica, inteiramente distanciada do capitalismo e do comunismo.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Declaração da Associação Cristo Rei de Cultura e Civismo sobre o famigerado Programa Nacional de Direitos Humanos-3.

Declaração da Associação Cristo Rei de Cultura e Civismo, de Toledo/PR, dirigida aos Bispos do Brasil, sobre o famigerado Programa Nacional de Direitos Humanos-3.


Laudetur Jesus Christus!

Toledo, 04 de março de 2010.

Assunto: Programa Nacional de Direitos Humanos-3


"A humanidade está experimentando um desconcerto diante das muitas manifestações do diabo." João Paulo II

I

O mundo moderno é prostibular porque tornou negociáveis certos valores que o mundo antigo e o mundo cristão consideravam como não negociáveis”, disse certa feita Charles Péguy, escritor e herói francês. Recentemente, o Papa Bento XVI, gloriosamente reinante, recebendo parlamentares do Partido Popular Europeu, ressaltou de forma inequívoca que “a promoção da dignidade da pessoa humana”, nomeadamente a proteção da vida e da estrutura natural da família, constitui “princípios não negociáveis”, acrescentando que esses princípios fundamentais, requerem um consenso geral: “a proteção da vida em todas as suas fases, do primeiro momento da concepção até ao seu termo natural; - o reconhecimento e a proteção da estrutura natural da família (união entre um homem e uma mulher, tendo como base o matrimônio), defendendo-se das tentativas de tornar equivalentes formas radicalmente diferentes de união que na prática contribuem para desestabilizar a família, obscurecendo a sua insubstituível função social; - a proteção do direito dos pais a educar os filhos”.

II

Por isso, em consonância com o magistério da Igreja, sentimo-nos apreensivos com os maus presságios que pesam sobre a nação brasileira com a edição do decreto 7037/2009 que aprovou o denominado Programa Nacional de Direitos Humanos-3 e que traz a assinatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seus ministros, entre eles, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à presidência da República.
Regozija-nos, todavia, a prudente Declaração da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil do dia 15 de Janeiro de 2010 onde esta “reafirma sua posição muitas vezes manifestada em defesa da vida e da família e contrária à descriminalização do aborto, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e o direito de adoção de crianças por casais homo-afetivos. Rejeita, também, a criação de mecanismos para impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União, pois considera que tal medida intolerante, pretende ignorar nossas raízes históricas” e a Declaração de 28 de janeiro de 2010, assinada por 67 Bispos, onde se ressalva que no Programa Nacional de Direitos Humanos-3 “há propostas que banalizam a vida, descaracterizam a instituição familiar do matrimônio, cerceiam a liberdade de expressão na imprensa, reduzem as garantias jurídicas da propriedade privada, limitam o exercício do poder judiciário, como ainda correm o perigo de reacender conflitos sociais já pacificados com a lei da anistia. Estas propostas constituem, portanto, ameaça à própria paz social”.


III


O PNDH-3 é um documento sutil e trás em seu bojo um ardil diabólico muitas vezes impossível de ser observado em uma leitura despretensiosa e superficial. A palavra “gênero”, a guisa de exemplificação, é citada “14” (quatorze) vezes no documento, no entanto, é praticamente desconhecido seu significado que, em breve síntese, é a consideração de que o sexo não é algo inato, senão adquirido, quer dizer, ninguém nasce homem ou mulher por natureza, senão que o adquire em função do desenvolvimento de sua personalidade ao longo de sua vida na sociedade: masculino, feminino, bissexual, transexual, etc.
Assistimos, portanto, à desintegração da unidade e identidade da pessoa em sua essência primeira, corpo e alma espiritual, e em sua natureza dinâmica e operativa em nível de diferenciação sexual como pessoas sexuadas desde o início da existência, como homem e mulher. Perdida assim sua unidade e identidade pessoal se romperia, segundo a “ideologia de gênero”, a unidade e identidade sexual.
Nesta perspectiva antropológica, recordava o Papa João Paulo II, de venerável memória, “a família humana está a viver a experiência de um novo maniqueísmo, no qual o corpo e o espírito são radicalmente contrapostos entre si: nem o corpo vive do espírito, nem o espírito vivifica o corpo. Assim o homem deixa de viver como pessoa e sujeito. Apesar das intenções e declarações em contrário, torna-se exclusivamente um objeto”, e acrescentava:Como estão distantes certas concepções modernas da profunda compreensão da masculinidade e da feminilidade oferecida pela Revelação divina! Esta leva-nos a descobrir na sexualidade humana uma riqueza da pessoa, que encontra a sua verdadeira valorização na família e exprime a sua vocação profunda mesmo na virgindade e no celibato pelo Reino de Deus ”. (1)


IV


Ademais, causa-nos preocupação outros pontos do aludido Programa Nacional de Direitos Humanos-3 que amiúde escapam a observação dos críticos:
Procura-se influenciar crianças e adolescentes através de certa “pedagogia da perversão” a qual segue os ditames da ideologia de gênero que visa desconstruir o que o governo cunhou de “heteronormatividade”: união segundo a ordem natural entre um homem e uma mulher (2).
Segundo o governo, é preciso “garantir os direitos trabalhistas e previdenciários de profissionais do sexo por meio da regulamentação de sua profissão” (Eixo Orientador IV, diretriz 7, objetivo estratégico VI, ação programática “n”), o que constitui uma violação concreta dos verdadeiros direitos humanos das mulheres. A experiência histórica, por outro lado, mostra que quando se toleram costumes irregulares ou inclusive se os protegem, são criadas condições ideais para que cresça.
Ademais, tenciosa o PNDH-3 modificar o atual sistema de repressão ao uso e ao tráfico de drogas (3) embora a atual legislação a respeito da matéria já é daninha para a sociedade, uma vez que não penaliza os “usuários” e confere benesses aos traficantes propriamente ditos (4). No entanto, isso não é novidade uma vez que o (então) Ministro do Meio Ambiente CARLOS MINC participou publicamente de uma “marcha” pela descriminalização do uso de maconha no ano que recém findara. Por outro lado, a liberação do uso de drogas não reduzirá a ação dos narcotraficantes, como quer fazer crer a inconsistente e esdrúxula retórica dos grupos que a almejam, mas sim, ao contrário, incrementará a demanda da droga, sem contar com o muito conveniente processo de imbecilização e dependência de populações inteiras.
Outrossim, o PNDH-3 pretende ampliar o leque de favorecimentos já existentes na atual legislação aos “acusados” e “sentenciados ” (5), e, ao mesmo tempo, visa o “estímulo ao desarmamento da população” e a ampliação das “restrições e os requisitos para aquisição de armas de fogo por particulares ” (6), esboçando um modelo de justiça contraditório e injusto, onde os criminosos se convertem em vítimas, e estas, em verdadeiros opressores. É essa ideologia que tem conduzido a impunidade no país.


V


Quando se começa a viver como se Deus não existisse, as más ações, outrora reconhecidas como pecaminosas – isto é, ofensivas à lei de Deus -, encontram quem as justifique, numa subversão à ética tradicional e numa visão de mundo em que a atividade humana, deixando de ser orientada para o divino e o eterno, dirige-se para os bens temporais - o prazer, o dinheiro, o poder, a utilidade social – como se fossem valores absolutos.
Nesse caso, conforme acentual o preclaro e saudoso jurista José Pedro Galvão de Sousa, não há mais obrigação moral, e a obrigação jurídica fica reduzida a uma imposição do poder público. Bem o compreendeu o romancista russo Dostoievski (1821-1881), ao dizer, em trecho famoso de sua obra “Os irmãos Karamazov”, que, se Deus não existe, tudo é permitido.
Em suma, com a morte de Deus, para usar a linguagem de hoje, tão cara à ideologia “comuno-ateísta” preconizada e defendida, embora se diga o contrário, pelos subscritores do PNDH-3, todos os valores e todas as normas objetivas desaparecem. Ficamos para além de todos os valores e de toda a norma objetiva. Os únicos valores e normas possíveis nessa hipótese ateísta são os valores e normas puramente subjetivos e conseqüentemente relativos.


VI

Encontramo-nos hoje, para nossa tristeza, divorciados do Princípio da realidade, com o que É, com Deus, mediante a violação pública de seus mandamentos e a zombaria a seus ensinamentos. É que aqui, agora, governantes, legisladores e juízes, se fazem “autônomos”, soberanos, e pretendem renovar o pecado da soberba relatado no Gênesis e determinar, sem Deus e contra Deus, o bem e o mal.

VII

Em face das circunstâncias supraditas, nós, da Associação Cristo Rei de Cultura e Civismo, composta por leigos católicos, fiéis a Cristo e a sua Santa Igreja, sem rugas e sem máculas, sob a luz e direção do Magistério do Sumo Pontífice e dos Bispos, nos dirigimos à vossa presença, clamando vosso auxílio, solicitando que se digne conclamar a cada sacerdote, que em suas respectivas paróquias, junto ao seu rebanho, reafirmem com a veemência necessária que exige os tempos obscuros em que nos encontramos, onde a fé mesmo é atacada em sua essência, o magistério da Igreja sobre os temas abordados no presente documento.
Os fiéis encontram-se confusos, desorientados, e o que é mais grave, desinformados, quando sua religião está na iminência de restar confinada ao âmbito da consciência individual; quando se encontram na iminência de verem, sem nada mais poder fazer, seus filhos receberem uma educação pervertida e anti-natural, onde seus valores morais e sua religião se reduzirão a nada ou a menos que isso, pois a única moral que existirá será a moral do Estado, moral relativista, utilitária e acima de tudo, anti-católica.
Só restará, então, a nostalgia de quando ainda éramos uma Nação cristã; nostalgia de quando a fidelidade conjugal, entre o homem e a mulher, o amor aos filhos e a moral cristã eram valores respeitáveis e bem quistos; nostalgia de quando as relações humanas se pautavam no respeito à dignidade da pessoa, dignidade que se iniciava desde a concepção; nostalgia de quando o homem valia por seu caráter e por seu trabalho em prol de sua família e de sua pátria e onde a cobiça, a inveja e o roubo eram condutas execráveis, e quando motivadas por uma ideologia, execráveis, funestas e medíocres.
Parece-nos que se o Programa Nacional de Direitos Humanos-3 lograr êxito, a nós católicos seria oferecido, pelos sectários dessa trama infernal, as alternativas expendidas por Aldous Huxley em sua célebre obra: uma vida insana na Utopia ou a sanidade, até certo ponto, numa comunidade de exilados e refugiados do Admirável Mundo Novo, vivendo nos limites da Reserva.
No entanto, a alternativa mais viável, é Resistir, sem esmorecimento nem titubeios, com resignação e tenacidade inquebrantável, pois esse é o espírito mais condizente com o ardor, com a galhardia e com a coragem de tantos católicos, leigos e religiosos, em momentos históricos similares, sobretudo, para que não pese sob nossas consciências, as duras, porém, verdadeiras, palavras de D. Leme, Arcebispo de Olinda, no longínquo ano de 1916: “Que maioria-católica é essa, tão insensível, quando leis, governos, literatura, escolas, imprensa, indústria, comércio e todas as demais funções da vida nacional se revelam contrárias ou alheias aos princípios e práticas do catolicismo?”.
Fomos uma Nação cristã, hoje não somos mais. Mas a restauração exige claridade na linguagem e nas condutas; exige inclusive ir para além da ordem natural e voltar a falar das exigências mais profundas da lei divina.

VIII

Conte sempre conosco, na defesa franca e aberta da ordem natural, do estandarte da Religião e da verdadeira liberdade. Saiba que encontrarás filhos fiéis, dispostos a servi-lo no cumprimento de vosso Apostolado.
Conte com nossas orações, para que prossiga firme perante a Diocese que lhe foi confiada por Deus, e para que, com vosso cajado, continue defendendo vossas ovelhas contra os lobos que ameaçam a paz social e pretendem promover no país uma horrenda dissolução moral em nome das mais perniciosas doutrinas.

Destes que, ajoelhados ante vós, vos oferecem o apoio e a obediência e rogam Vossa bênção:

Luiz Henrique Dezem Ramos - Presidente
Willian Fiorentin – Vice-Presidente
Djoni Robison Deneka Henz – 1° Secretário
Rafael Gaffuri Klais - 2° Secretário
Anderson Luiz Cuppertini - Tesoureiro


1 Carta do Papa João Paulo II às famílias. 1994 – Ano da Família, 33. Disponível em: . Acesso em: 01.03.2010.

2 “Estabelecer diretrizes curriculares para todos os níveis e modalidades de ensino da educação básica para a inclusão da temática de educação e cultura em Direitos Humanos, promovendo o reconhecimento e o respeito das diversidades de gênero, orientação sexual, identidade de gênero, geracional, étnico-racial, religiosa, com educação igualitária, não discriminatória e democrática”. (Diretriz 19, objetivo estratégico I, ação programática “a”)

3 “Realizar debate sobre o atual modelo de repressão e estimular a discussão sobre modelos alternativos de tratamento do uso e tráfico de drogas, considerando o paradigma da redução de danos”. (Eixo Orientador IV, Diretriz 13, Objetivo estratégico IV. Ação programática “g”).

4 Artigo 33, parágrafo 4º, da Lei n.º 11.343/06.

5 “O eixo orientador IV propõe profunda reforma da Lei de Execução Penal que introduza garantias fundamentais e novos regramentos para superar as práticas abusivas, hoje comuns. E trata as penas privativas de liberdade como última alternativa, propondo a redução da demanda por encarceramento e estimulando novas formas de tratamento dos conflitos, como as sugeridas pelo mecanismo da Justiça Restaurativa”.

6 “Realizar ações permanentes de estímulo ao desarmamento da população”.
“Propor reforma da legislação para ampliar as restrições e os requisitos para aquisição de armas de fogo por particulares e empresas de segurança privada”. (Eixo Orientador IV, Diretriz 13, Objetivo estratégico I, ações programáticas “a” e “b”).

Frente pró-aborto: ditatorialismo verbal anti-Brasil e anti- vida

A “Frente Nacional contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto” reuniu-se em plenária na capital federal.

Ali tratou de como enfrentar e, eventualmente, passar a perna na onda pela vida que assusta os políticos desde a eleição presidencial de 2010, noticiou “Carta Maior”.

O contingente feminista foi a Brasília para participar da “Marcha das Margaridas” pela reforma agrária que ganhou o apóio da presidente Dilma Rousseff.

A seguir realizou sua reunião no Congresso Nacional, claro sinal do apoio que a causa anti-vida tem nos ambientes políticos.

Na ocasião, a frente pela morte dos nascituros enxergou poucas chances de ampliar o aborto. Decidiu, então, concentrar seus esforços em frustrar projetos que poderiam salvar inúmeras vidas.

Dilma na "Marcha das Margaridas".
Reforma Agrária foi boa ocasião
para reunir militantes da "cultura da morte"
O contingente da Frente foi reforçado por grupos homossexuais e estudantis de esquerda. Mas o clima não estava para muitas iniciativas.

A questão central, segundo “Carta Maior”, foi de como enfrentar o avanço do conservadorismo.

Os presentes concordaram que a opinião pública brasileira se mostrou contrariada pelo posicionamento abortista dos principais candidatos à presidência, por ocasião da eleição presidencial de 2010.

Candidatos que – observamos nós – segundo as regras de uma boa democracia deveriam representar dita opinião, mas não o fizeram.

O povo brasileiro quis colocar a recusa do aborto no centro do debate político. Para os principais candidatos e os movimentos feministas, o fato de o verdadeiro povo se manifestar é algo deplorável, pois nessa hora ele externa lamentáveis “sentimentos conservadores”.

Tais sentimentos, segundo as militantes da Frente anti-vida, não apenas dificultaram a ampliação do aborto, mas agora animam projetos que limitam as possibilidades de interromper a vida, já admitidas na legislação brasileira.

As ativistas vituperaram a proposta do Estatuto do Nascituro, que transita na Câmara dos Deputados e visa proibir o aborto mesmo em casos de estupro, porque reconhece aos embriões a mesma proteção jurídica dada às crianças e aos adolescentes.

Outra iniciativa tripudiada pelas militantes da esquerda foi uma cordata proposta que oferece benefício financeiro às vítimas de estupro que decidam levar adiante sua gravidez.

Os dois projetos foram aprovados pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara.

“Tem pelo menos quatro projetos tramitando no Congresso para transformar o aborto em crime hediondo e dois deles para transformar em crime de tortura”, deplorou Sílvia Camurça, da Articulação de Mulheres Brasileiras. Esta ONG faz parte da Frente, ao lado da Marcha Mundial de Mulheres, da Liga Brasileira de Lésbicas e da União Nacional dos Estudantes (UNE).

A coalizão de feministas, lésbicas e esquerdistas também quer barrar o ensino religioso, promover o laicismo agressivo e se arrepia com qualquer acordo entre o Brasil e o Vaticano.

No Senado: plenária da Frente Nacional
pelo Fim da Criminalização das Mulheres
e pela Legalização do Aborto (Antonio Cruz/ABr)
“Nós queremos fazer o debate do aborto (...) não a partir dos valores e concepções de alguns setores da sociedade”, afirmou Sônia Coelho, da Marcha Mundial de Mulheres.

A radical ativista silenciou o fato fundamental: esses “alguns setores” formam a imensa maioria do povo brasileiro contrária ao aborto.

E não só repele a ampliação do aborto: pesquisa do instituto Sensus, divulgada dois dias antes da plenária da Frente, mostrou que a aprovação do casamento homossexual pelo Congresso recolhe um apoio minoritário dos brasileiros (37%).

Pior índice de aprovação tem a descriminalização das drogas: 17%. Em sentido contrário, a redução da maioridade penal é defendida por 81%.

Para os participantes daquela reunião libertária, todos estes sinais de conservadorismo são alarmantes.

De fato, aborto, homossexualismo, descriminalização das drogas e crime são bandeiras intrinsecamente aliadas que visam descristianizar a sociedade.

No mundo político está a esperança da "cultura da morte"
Para a feminista Nalu Farias – provavelmente instruída apenas pela mídia do macrocapitalismo publicitário –, o Brasil vive um “retrocesso”, porque os “governos populares na América Latina” estariam obtendo encorajadores avanços na linha da “cultura da morte”.


Nalu Farias propôs que a Frente toque a ofensiva pelo aborto através dos “espaços de integração latino-americana, como a Cúpula dos Povos”.

De fato, a imensa maioria da população brasileira pouco se interessa por esses espaços, que são dominados pelos partidos de esquerda. As ativistas da “cultura da morte” poderão, portanto, se mexer à vontade nesse ambiente de costas para o País.

Povo brasileiro não quer os absurdos anti-vida.
Foto: grupo Loucas da Pedra, Recife,
na "Marcha das Margaridas", Brasilia 2011
A senadora Lídice da Mata (PSB-BA) lamentou o fato de que “o movimento de mulheres está sendo lançado ao gueto, cada vez mais colocado na ‘marginalidade’, depois que se colocou no debate político no Brasil no período eleitoral ser contra ou a favor do aborto”.

As declarações da senadora suscitam perguntas de furar os olhos:

- Em eleições presidenciais não pode então o povo brasileiro manifestar o que pensa em matéria tão importante como o aborto, e sua opinião não deve ser respeitada como sendo a do verdadeiro soberano?

- Pode o povo ser levianamente acusado de “lançar no gueto” e “marginalizar” os outros só por não concordar com o mundo político em matérias graves?

- Onde estão a democracia e o respeito pelas opiniões diferentes? Onde está a famosa “diversidade”?

O linguajar da senadora ressuma ditatorialismo esquerdista. Mas não surpreende: é o próprio da “cultura da morte”.

O Brasil é de Nossa Senhora Aparecida, Mãe de Jesus Cristo, que disse de Si próprio: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida” (João, 14-6).

Por isso, o Brasil genuinamente cristão raciocina e trabalha em paz, e não acompanha o modo de proceder dessa agitada assembléia anti-vida.

Fonte: Valores Inegociáveis